Bacnaré

Bacnaré
A arte em forma de dança

domingo, 24 de novembro de 2013

Ubiracy Ferreira, fundador do Bacnaré, morre no Recife

Artista lutava contra um câncer há anos e acabou morrendo na sexta (25).
Além do Bacnaré, ele também fundou o Balé Primitivo de Arte Negra.

Do G1 PE
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Ubiracy Ferreira, fundador do Bacnaré (Foto: Renan Holanda / G1)
Ubiracy fundou o Bacnaré (Foto: Renan Holanda / G1)
Morreu na sexta-feira (25), no Recife, aos 76 anos, o Mestre Ubiracy Ferreira, fundador do Balé de Cultura Negra da cidade (Bacnaré), do Balé Primitivo de Arte Negra e presidente do Maracatu Sol Nascente.

De luto, a mesa “Dança Afro: criação e autenticidade no jogo das identidades”, que faz parte da programação do Festival Internacional de Dança do Recife, foi transferido do sábado para este domingo (27). O artista lutava contra um câncer há alguns anos.
Além de reconhecido dançarino, Ubiracy também era professor e pesquisador da cultura popular pernambucana, sendo um dos principais representantes da cultura e da religiosidade afro-brasileiras. À frente do Bacnaré, ele se apresentou em vários países e conquistou cerca de 160 prêmios no Brasil e no exterior.
Em entrevista recente ao G1, Ubiracy chegou a revelar que grupos africanos, ao assistirem às apresentações do Bacnaré, ficavam deslumbrados com a capacidade do balé em interpretar de forma tão fidedigna as danças originárias no continente negro. O grupo ensaiava na própria casa do Mestre, no bairro de Água Fria, Zona Norte do Recife.
Devido à doença de Ubiracy, a mulher Antônia e o filho Tiago Batista já estavam com a responsabilidade de dar prosseguimento às atividades do Bacnaré.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

amigo dos santos e orixás

Quando os movimentos do bebê viraram alvo da atenção de Zumira, os olhos notavam o céu das 19h se apagando em Barreiros, município da Zona da Mata Sul pernambucana. A gestação, pioneira, já contava o nono mês. Cândida, prestes a ganhar um neto, alertou a filha: eram as contrações. Sem tanta convicção, mas confiando na matriarca, Zumira colheu flores e ervas no quintal. Retomava a tradição com que todos os membros da família eram recebidos. Cândida preparou uma bacia e coletou as joias de ouro e prata dos parentes, além de incenso, mirra, benjoim e alfazema. Às 2h, todos acordados e as dores aumentando, chamou a parteira e sentenciou: “Nasce até as 5h”. Feito. O sol acendia quando Ubiracy Ferreira chegou no horário em ponto.
Prontamente, a avó pegou todo o material reunido e iniciou o banho, rito de consagração trazido da África. Depois, vestiu o menino com um timão de mangas compridas, embrulhou num lençol bordado pela família e pôs para repousar ao lado direito de Zumira, como uma lembrança: o primeiro leite deveria vir do seio direito, lado em que desde então — estamos falando de 19 de novembro de 1937 — reside o começo, para tudo, na vida de Ubiracy.
Também foi com o pé direito à frente, em 1954, que Bira, como passou a ser chamado, pisou no nobre palco do Teatro de Santa Isabel, nunca antes cenário para um dançarino negro de música afro. Quando o gesto de afirmação cultural lhe rendeu forte resistência de setores da cidade, ele já era o Mestre Ubiracy, primeiro patriarca guardião da história secular de seus ancestrais.
Aprendeu ainda criança, por meio da oralidade, os costumes religiosos e as manifestações artísticas dos antepassados. As lições eram cotidianas. Em junho, por exemplo, havia a Trezena de São João, do início ao décimo terceiro dia do mês, marca da convivência íntima com o catolicismo rural. “O chão da casa era forrado por esteiras, onde as mulheres e meninos sentavam, os homens ficavam por fora, da janela, todos rezando o terço. Quando acabava, primeiro começava uma ciranda, com todos de mãos dadas. Depois se dançava ococo, até cada um cansar e ir para casa dormir, duas ou três horas da manhã”, explica.
Aos 7 anos, Bira fez sua cerimônia de iniciação nagô, na mata, com cantos, rezas, maracas e sacrifício de animais. Renovou a celebração em mais três múltiplos de sete: aos 14, 21 e 28 anos. A espiritualidade existe nele desde quando a lembrança atinge. Certa vez, tinha de 10 para 12 anos, foi levado até uma casa a fim de ajudar uma mulher. Ela estava fora de si e de ponta-cabeça, com as pernas entrelaçadas na madeira do telhado. Muitos já haviam tentado tirá-la daquela posição esdrúxula, seja com palavras de exorcismo ou subindo uma escada e puxando na marra. Mas seu corpo rígido não respondia a estímulos. Ubiracy mandou que os homens — sem tanta fé, mas confiantes no menino — se posicionassem embaixo da moça e sentenciou: “Ela já vai cair”. Encontrou os braços que lhe aguardavam. Na sequência, a mulher recebeu um banho especial, uma defumação, repousou e voltou ao normal.
Com 74 anos, Ubiracy Ferreira instalou sua energia no subúrbio do Recife, onde mora com a esposa, Antônia Batista, e o filho, Tiago, 35. A casa está fincada em Água Fria, envolta na religiosidade. Na entrada, imagens sagradas recebem os visitantes e protegem os habitantes. De frente à porta da sala, uma vela é mantida sempre acesa, para que a chama ilumine os caminhos espirituais.
O bom convívio com outros credos está bem posto na estante ou pendurado nas paredes: santos católicos, imagens budistas, máscaras hindus e acessórios japoneses — peças sagradas de diversas culturas se abrigam formando um sincretismo particular. “São objetos de sorte, então que estejam dentro da minha casa”, afirma. “Que todas as igrejas se juntem e rezem, cada uma à sua maneira, pedindo pelos irmãos — de dentro e de fora das igrejas”, deseja.
Ubiracy é um homem de cultura, com 168 prêmios internacionais, recebidos em países como Inglaterra, França, Espanha, Bélgica, Polônia, China e Taiwan. Frondosos frutos do trabalho com as próprias raízes. Há 60 anos, o mestre ensina dança, música e vida a crianças e adolescentes da Região Metropolitana do Recife. Não há conta que mensure quantos foram os seus alunos — alguns hoje são multiplicadores do conhecimento recebido, outros trabalham na Europa.
A casa de Bira integra o programa Ponto de Cultura, do governo federal. É lá que funciona o Bacnaré — o Balé de Cultura Negra do Recife. É lá que se organiza um dos pastoris mais tradicionais da cidade, que mantém as mesmas características de um século atrás. É onde ocorre a bênção que antecede o início da Bandeira de São João, que segue até a igreja católica e se transforma em Acorda Povo, uma festa profana. É lá, também, que reside a alma do Maracatu Nação Sol Nascente, fundado em 1905 por Biica, sua tataravó, que nasceu escrava e se tornou senhora.
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oração ao tempo

Há seis anos e meio, Ubiracy foi ao médico, algo até então raro e que havia feito pela primeira vez apenas aos 38 anos. Recebeu uma notícia difícil. Chegou em casa, reuniu esposa e filho sentados na sala: câncer de próstata. Todos cabisbaixos. “Não sei quantos dias vou ter, mas vocês seguirão com cuidado o que devem fazer na minha partida”, disse, antes de detalhar o próprio velório.
Bira passou três dias deitado. Antônia e Tiago respeitaram o momento, sempre verificando como ele estava se sentindo. Na quarta aurora, às 5h, como em 1937, sentiu uma mão balançando seu ombro, como quem chama, com carinho e pressa, no instante de acordar. Pensou que era Antônia, mas seus olhos a viam dormir. Fez suas orações já decidido sobre o roteiro do dia. Às 7h, avisou a mulher e foi ao trabalho.
Professor de dança na rede estadual de ensino, retomou suas atividades normais. Fez questão de não esconder sua situação e contou a todos da escola. “Os meninos choravam como se eu já tivesse morrido”. Travou uma relação franca. Em dias de maior fragilidade, pedia a compreensão de todos, que se comportavam com um silêncio exemplar. Alguns pupilos pediam para lhe acompanhar até a parada de ônibus. “Pode deixar, não precisa. Mas não pense que não vou pedir quando for o caso”, respondia. Em dias de maior disposição, avisava à turma: “Podem bagunçar!”.
Depois de três anos, houve um dia em que chorou em todas as aulas. Não disse nada. Ao fim do expediente, seu birô estava tomado por copos com água, cada um levado por um aluno. Era o seu último dia de trabalho e aquela dor era de saudade. A rotina de Ubiracy tem sido alterada pelo corpo, que não mais permite a infinita dedicação a sua missão. Participa como pode. Em 2012, foi homenageado no Janeiro de Grandes Espetáculos e na Noite dos Tambores Silenciosos. Prepara agora, para agosto, a sua despedida dos palcos de dança, que será no Teatro de Santa Isabel. E segue, com a certeza que há muito lhe acompanha: “O tempo é um orixá, um santo poderosíssimo capaz de resolver tudo”.
Mano Ferreira (texto)
Alcione Ferreira (fotos)

domingo, 1 de julho de 2012


BACNARÉ
Bale de Cultura Negra do Recife
Apresenta:
Memórias
     Montagem que relata a história do povo de África, desde o Navio Negreiro, Morte de Ganga Zumba, Nascimento de Zumbi e a vivência do Homem Negro nessa Terra fértil que os trouxe tanto trabalho, sofrimento, mas também Memórias.
    Espetáculo reconhecido internacionalmente com mais de 160 prêmios.

Teatro Luiz Mendonça - Parque Dona Lindú
Dia 03/07/2012 – 20:00 h
Ingressos:   R$ 20,00 (Inteira)
                                                                       R$ 10,00 (Meia)

Bacnaré em Dona Lindu


BACNARÉ
Bale de Cultura Negra do Recife
Apresenta:
Memórias
     Montagem que relata a história do povo de África, desde o Navio Negreiro, Morte de Ganga Zumba, Nascimento de Zumbi e a vivência do Homem Negro nessa Terra fértil que os trouxe tanto trabalho, sofrimento, mas também Memórias.
    Espetáculo reconhecido internacionalmente com mais de 160 prêmios.

Teatro Luiz Mendonça - Parque Dona Lindú
Dia 03/07/2012 – 20:00 h
Ingressos:   R$ 20,00 (Inteira)
                                                                    R$ 10,00 (Meia)

sábado, 22 de outubro de 2011

Pastoril

Pastoril do Sol Nascente revela tradição do Natal do Recife

30 nov

Por Júlia Veras e Guilherme Gatis
Do NataldoRecife.com.br

A primeira apresentação foi há 56 anos, na calçada de uma vizinha, no Alto do Pereirinha, no bairro de Água Fria. O grupo de seis meninas e um menino, vestidos de roupinhas de papel crepon, começou naquele ano a história do Pastoril do Sol Nascente, fundada por Ubiraci Ferreira (foto abaixo), de 73 anos, quando veio de Barreiros para morar por aqui. “É um dos mais antigos e é o mais tradicional da cidade”, como gosta de dizer o próprio. “Posso garantir que nos apresentamos guardando as características de 100 anos atrás”, completa ele. O Sol Nascente é um dos mais de cem pastoris existentes no Recife, o folguedo mais popular do nosso Natal.
A pesquisadora do assunto, Dinara Pessoa, que no ano 2000 lançou o CD “Pastoril” com o apoio da Prefeitura do Recife, explica que o folguedo tem origens na Penísula Ibérica. “As cores azul e vermelha, tão características, simbolizam as disputas entre mouros e cristãos”. Existem, a grosso modo, dois tipos de Pastoril. O primeiro, o de jornadas soltas, que vem do pastoril religioso – que já não existe mais de forma original -, e o profano. O primeiro traz as figuras clássicas, como a mestra, a contra-mestra, a Diana, a cigana, a borboleta, o pastor, o florista e a estrela. Já o segundo tipo não costuma ter todos estes personagens – em alguns casos, contudo, chegam a ter a mestra, a contra-mestra e a Diana -, mas possui a figura marcante de um velho jocoso. Entre os ritmos típicos da trilha sonora, estão a valsa, o maxixe e as marchas.
E é ao primeiro tipo que pertence o Sol Nascente, que até hoje se mantém firme na missão de tornar mais colorido o Natal do Recife. O pastoril participará do Cortejo Natalino organizado pela Prefeitura, junto com dezenas de outros grupos, no dia 17 de dezembro. O desfile começa às 17h e sai da praça Maciel Pinheiro, no centro. De lá, os grupos percorrem um trajeto que inclui a rua da Imperatriz e a praça do Diário, até chegar ao pátio de São Pedro.
>> Clique aqui para conferir a programação completa do Natal da Solidariedade.
O Sol Nascente também se apresenta na rua Raul Pompéia, 462, em Água Fria, geralmente no último fim de semana de dezembro. As festividades, no entanto, não terminam por aí. No mês de janeiro, o grupo participa da tradicional Queima da Lapinha – eles montam um presépio para uma nova apresentação em frente a casa de Seu Ubiraci e transformam as figuras em cinzas, que vão abençoar todos os instrumentos do grupo e afastar os maus olhados do ano que está começando.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Sons da África

Obrigado a todos que colaboraram com o novo projeto do Bacnaré que e a construção de sua sala de ensaios indo prestigiar no dia 1º de Outubro com o espetáculo Sons da África
 
  

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Sons da África

O Bacnaré estará realizando um espetáculo dia 1º de Outubro em prol a construção de sua sede. Contamos com a colaboração de todos, venham nos prestigiar e conhecer o novo, Sons da África.